terça-feira, julho 25, 2006

Confiar em quem nos mente

Prefácio de Adriana Oliveira, mais má do que nunca
As chamadas mentiras piedosas. É o desejo de proteger o filho contra as agruras da vida, ou contra as desilusões parentais que possa vir a ter? Afinal, para que servem as mentiras que as mães contam aos filhos, para proteger os filhos ou os pais?


- Filho, a mãe vai ganhar o tostão... não fiques triste, a mãe volta logo. Em seguida, a mãe sai para a despedida de solteiro de uma amiga, para voltar de madrugada.
Em casa, sobrevôa uma mosca. A menina, de pouco mais de 2 anos, repara nela: "ah mos... ah mos...", enquanto a tenta afastar com os pequenos braços. A mãe, atenta, tira mata a mosca com o chinelo e, em seguida, aspira-a: "Já está, filha!". Depois de alguns segundos de olhos fixos e esbugalhados, a criança desata a chorar desalmadamente, visivelmente triste e confusa com a situação. Ao entrar uma outra mosca pela janela, a mãe, aflita, diz: "A mãe estava a brincar, filhota, a mosca está aqui! Não chores mais...".


É isto que nós fazemos. Cuidamos e recuperamos as pessoas de quem gostamos, com as nossas mentiras. Não preparamos, nem evitamos o que vem depois. É muito difícil fazer diferente.
O meu parecer sobre este assunto está localizado algures entre os limites do acreditar e do confiar. Eu acredito em tudo, à partida. Eu não confio em nada, à partida. Tento não depender de nada em que acredite.
E é tão difícil confiar em qualquer um dos casos, não é...?