sexta-feira, setembro 30, 2005

Criança vs Adulto

Acho que fui criança tempo demais. Brinquei até tarde. Lembro, com perfeição, as minhas brincadeiras de eleição e acho que, ainda hoje, todo aquele "faz-de-conta" tem lógica para mim.
Lembro-me de querer brincar com o meu irmão mais velho e ele não querer brincar comigo. Lembro-me da minha mãe me dizer "o teu irmão brincou sempre sozinho, porque é que não brincas também?". Acho incrível como isso não destruiu o meu sentido de (in)justiça - por completo. Não consigo prever, com pormenor, como isso pode ter afectado o que se seguiu na minha vida, mas daria, com toda a certeza, sentido a muita coisa...

"Ser criança" é uma expressão controversa e a sua qualidade é contraditória. Ninguém sabe muito bem o que é: suponho que as crianças não pensem muito sobre isso, porque estão ocupadas a sê-lo, e os que não o são (seja isso em que idade for), não me parecem capazes de se decidir. Se, em algumas alturas, "ter uma criança dentro de nós" é "saudável" e aplaudido, noutras, comportarmo-nos "como uma criança" é "rídiculo" e desapropriado.

Chegou a altura das perguntas sem resposta (estejam à vontade para me contrariar):
  • Nascemos para ser adultos?
  • Ser criança é apenas uma fase? Uma fase de moratória... para que a adultez "corra bem"?
  • Estará esta fase assegurada no futuro ou tenderá a tornar-se vestigial?
  • Haverá realmente alguma diferença significativa entre ser criança e ser adulto, para além do tamanho?
  • Será a teoria "No limite, nasceremos pequenos, mas completamente adultos" realmente estúpida?

Uma teoria tão "má" como qualquer outra que não seja científica (pois sim):

Brincar é (querer) ser adulto

A diferença entre crianças e adultos pode passar apenas pela questão da possibilidade. Brincar, quando se é pequeno, implica sempre alguma actividade relativa aos adultos. A questão é que as crianças têm de recriar o mundo que (ainda) não podem ter. Fazem-no brincando. A partir do momento em que a possibilidade é vista como uma "certeza possível", já não se quer ser criança.

Acredito que quanto mais tempo formos privados das possibilidades, mais seremos obrigados a recriar o mundo. Sem podermos concretizar as possibilidades "nunca", um dia sentimos que não chega recriar. Em busca de algo que não interessa definir agora, passamos a criar outros mundos. E vemo-nos ser chamados de adultos, ainda acreditando nesses mundos.

Acredito que quanto mais "brincamos sozinhos", mais criativos e anti-sociais seremos, mais tarde...

Nunca gostei de ser criança. Se tenho saudades do que está para trás, estas encontram-se em fragmentos exteriores ao que fui e que me tornou assim. Não quero ser criança... No limite, queria ter a possibilidade de voltar a desenhar nesses fragmentos. Nem que fosse só para sentir que já não é a mesma coisa...

Acredito que ser criança ou adulto é uma escolha... entre dois nomes.

Acredito que os simples, arrumam o quarto mais cedo...

Acredito que ainda espero, um dia, acordar e ser tudo mentira. E haver mais gente nestes mundos para eu brincar. Vou dar mais tempo. Vou querer dormir até mais tarde, amanhã...

1 comments:

Blogger Tiago said...

Agora a culpa é minha, só porque não queria brincar ás barbies ou ás vendas? É muito fácil ser inútil e tentar por a culpa nos outros. Além de fácil, é estúpido. Temos sempre responsabilidade no que fazemos. Que é feito do sentido de auto responsabilidade?

03 outubro, 2005 12:13  

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