"Liberdade de expressão" VS "O fim da razão"
Liberdade de Expressão - pressupostos:
- toda a gente pode (e deve) dizer o que pensa
- tudo está certo
- tudo é aceitável
Consequências:
- maior necessidade de treino da paciência (para ouvir os outros)
- ter de levar com frases como "é a minha opinião pessoal", "eu respeito a tua opinião", "posso falar?", "isso é subjectivo", ou até "o ar é de todos" (esta já foi puxadita)
- a razão tornou-se relativa e a verdade hoje em dia serve de muito pouco, porque todos nós podemos acreditar no que quisermos
- discutir passou a ser uma seca, porque somos socialmente obrigados a "aceitar" o que a outra pessoa diz, por mais irritantes que sejam (a pessoa e o que ela diz) e no fim não há um vencedor (eu sou muito competitiva)
- blogs como este
Começo a auto-rejeitar o meu relativismo. Isto é grave, no sentido em que à partida era algo de que me orgulhava. Ultimamente, tenho começado a ver o lado negro desta brincadeira de "ser relativista".
Não gosto de mentes fechadas e admiro quem consegue ver as coisas de formas "não óbvias" e ainda mais quem me mostra uma forma diferente de olhar a realidade. Acho que é o que de mais próximo consigo estar da auto-superação, com tudo o que isso significa para mim. Contudo, desde há uns tempos sinto-me mal quando dou por mim a dizer coisas do tipo: "és preconceituoso", "isso é relativo", "isso para mim é normal" ou o irritante "não fales do que não sabes". Começo a pensar que achar "tudo" normal também tem o seu quê de doentio e passa-me pela cabeça escrever agora a seguir que o relativismo me está a despersonalizar. Mas não vou escrever.
No fundo, o preconceito pode ser saudável. Protege-nos. Por exemplo, se muito boa gente tivesse seguido este preconceito da Margarida Rebelo Pinto**: "na noite não se encontra nenhuma mulher séria", muitos estragos poderiam ter sido evitados.
Por outro lado, a expansão do aceitável também acabou por nos uniformizar. Se tudo é normal, porque simplesmente acontece e porque a nossa "humanidade" é sinónimo de diversidade, então somos todos iguais. Ninguém é diferente***. Vamos pensar sobre isto... se tudo é normal, é aceitável ser-se preconceituoso. Cheira-me que só temos liberdade para expressarmos o que é politicamente correcto****.
Ao darmos direitos iguais a toda a gente, tiramos um pouco de heterogeneidade ao mundo. Como tenho quase a certeza de que não me fiz entender e que provavelmente tudo isto faria mais sentido dito ao contrário, deixo aqui uma troca de ideias que subscreve o que eu quero dizer:
Mulher-Elástico: "Toda a gente é especial, Flecha..."
Flecha: "É a mesma coisa que dizer que ninguém é..."
No fundo, não sei se a liberdade de expressão é uma coisa boa. A sorte está do outro lado. Os relativistas são apenas chatos e desinteressantes.
Vou continuar a assistir à banalização das palavras, daqui de onde olho tudo. Com o mesmo sorriso, fungar de nariz e abanar de cabeça com que reajo aos "senhora doutora".
Fico contente por ainda não sermos todos meninos de colégio...
Nota 1 - Ninguém poderá rebater este post, porque a minha reacção será, em qualquer dos casos: "Esta é a minha verdade e estou protegida pelo poder do relativismo".
Nota 2 - Esta temática comeu-me a cabeça por completo. Sei que acredito no que estou a dizer, mas leio-me e vejo muitas contradições. Não faz mal, tudo é normal. Olha, acho que acabei de inventar um provérbio.
* é só pra deixar bem claro que eu não concordo mesmo nada com esta conotação negativa da cor preto. Usei-a porque tenho de me fazer entender neste mundo preconceituoso.
** sei que vou chocar muita gente, só por ter referido este nome... óptimo.
*** julgo que isto vem contradizer o Fifi. Nem a Rute é especial. Desculpa, Fifocas!
**** passo a publicidade ao recém-remodelado Covil.
1 comments:
em relacao ao relativismo, só posso dizer q tb sou, o q n faz com q concorde c o q escrevest, obviamente.
Pequena nota à tua liberdade de expressão, mais propriamente à palavra liberdade: onde é q acaba a tua e começa a minha?
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