sábado, setembro 24, 2005

"Liberdade de expressão" VS "O fim da razão"

Liberdade de Expressão - pressupostos:

  • toda a gente pode (e deve) dizer o que pensa
  • tudo está certo
  • tudo é aceitável

Consequências:

  • maior necessidade de treino da paciência (para ouvir os outros)
  • ter de levar com frases como "é a minha opinião pessoal", "eu respeito a tua opinião", "posso falar?", "isso é subjectivo", ou até "o ar é de todos" (esta já foi puxadita)
  • a razão tornou-se relativa e a verdade hoje em dia serve de muito pouco, porque todos nós podemos acreditar no que quisermos
  • discutir passou a ser uma seca, porque somos socialmente obrigados a "aceitar" o que a outra pessoa diz, por mais irritantes que sejam (a pessoa e o que ela diz) e no fim não há um vencedor (eu sou muito competitiva)
  • blogs como este

Começo a auto-rejeitar o meu relativismo. Isto é grave, no sentido em que à partida era algo de que me orgulhava. Ultimamente, tenho começado a ver o lado negro desta brincadeira de "ser relativista".

Não gosto de mentes fechadas e admiro quem consegue ver as coisas de formas "não óbvias" e ainda mais quem me mostra uma forma diferente de olhar a realidade. Acho que é o que de mais próximo consigo estar da auto-superação, com tudo o que isso significa para mim. Contudo, desde há uns tempos sinto-me mal quando dou por mim a dizer coisas do tipo: "és preconceituoso", "isso é relativo", "isso para mim é normal" ou o irritante "não fales do que não sabes". Começo a pensar que achar "tudo" normal também tem o seu quê de doentio e passa-me pela cabeça escrever agora a seguir que o relativismo me está a despersonalizar. Mas não vou escrever.

No fundo, o preconceito pode ser saudável. Protege-nos. Por exemplo, se muito boa gente tivesse seguido este preconceito da Margarida Rebelo Pinto**: "na noite não se encontra nenhuma mulher séria", muitos estragos poderiam ter sido evitados.

Por outro lado, a expansão do aceitável também acabou por nos uniformizar. Se tudo é normal, porque simplesmente acontece e porque a nossa "humanidade" é sinónimo de diversidade, então somos todos iguais. Ninguém é diferente***. Vamos pensar sobre isto... se tudo é normal, é aceitável ser-se preconceituoso. Cheira-me que só temos liberdade para expressarmos o que é politicamente correcto****.

Ao darmos direitos iguais a toda a gente, tiramos um pouco de heterogeneidade ao mundo. Como tenho quase a certeza de que não me fiz entender e que provavelmente tudo isto faria mais sentido dito ao contrário, deixo aqui uma troca de ideias que subscreve o que eu quero dizer:

Mulher-Elástico: "Toda a gente é especial, Flecha..."

Flecha: "É a mesma coisa que dizer que ninguém é..."

No fundo, não sei se a liberdade de expressão é uma coisa boa. A sorte está do outro lado. Os relativistas são apenas chatos e desinteressantes.

Vou continuar a assistir à banalização das palavras, daqui de onde olho tudo. Com o mesmo sorriso, fungar de nariz e abanar de cabeça com que reajo aos "senhora doutora".

Fico contente por ainda não sermos todos meninos de colégio...

Nota 1 - Ninguém poderá rebater este post, porque a minha reacção será, em qualquer dos casos: "Esta é a minha verdade e estou protegida pelo poder do relativismo".

Nota 2 - Esta temática comeu-me a cabeça por completo. Sei que acredito no que estou a dizer, mas leio-me e vejo muitas contradições. Não faz mal, tudo é normal. Olha, acho que acabei de inventar um provérbio.

* é só pra deixar bem claro que eu não concordo mesmo nada com esta conotação negativa da cor preto. Usei-a porque tenho de me fazer entender neste mundo preconceituoso.

** sei que vou chocar muita gente, só por ter referido este nome... óptimo.

*** julgo que isto vem contradizer o Fifi. Nem a Rute é especial. Desculpa, Fifocas!

**** passo a publicidade ao recém-remodelado Covil.

1 comments:

Blogger Adriana said...

em relacao ao relativismo, só posso dizer q tb sou, o q n faz com q concorde c o q escrevest, obviamente.

Pequena nota à tua liberdade de expressão, mais propriamente à palavra liberdade: onde é q acaba a tua e começa a minha?

24 setembro, 2005 22:08  

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