quinta-feira, dezembro 29, 2005

Motivações

Um amigo meu comunicou-me há tempos que, das duas, uma: ou casava de uma vez, ou terminava a relação de uma vez. Falta de romantismo? Nada disso: excesso de tédio. Não é caso único. Olho em volta e confirmo a tese: as pessoas, ou a esmagadora maioria delas, casam-se por tédio, têm filhos por tédio, trabalham por tédio, consomem por tédio. E, não raras vezes, arruinam-se por tédio. Marx, como sempre, estava errado. Não é a luta de classes que faz mover a carroça do mundo. É o tédio. Este tédio permanente que paira sobre os metecos.
(Coutinho, J.P., 2005, in MAXMEN*)
A motivação** é um saco muito largo, onde cabe muita coisa. Independentemente da vontade ou necessidade que temos de fazer qualquer coisa, temos motivações que decidem se realmente vai haver acção ou não, além da intenção. Para mim, a motivação é aquilo que normalmente não sabemos explicar o que é e que nos faz fazer ou não fazer "coisas". Acho que estas coisas que nos perturbam - por não percebermos porque é que (não) fazemos o que muitas vezes (não) fazemos - estão sempre relacionadas com o que de mais puro temos dentro de nós, de onde me interessa destacar neste momento: o nojo, o medo, o tédio e o egoísmo***.
Eu não consigo perceber porque é que não o cumprimentei a ele (eu até sou de me dar com "todo o tipo de gente").
Eu não entendo porque é que não larguei tudo e lutei por ele (eu até gosto tanto dele como nunca gostei de mais ninguém).
Não sei porque é que ainda estou com ele (eu gosto dele, não gosto?).
Não há nada em mim que explique eu ter-lhe feito aquilo (eu até nem sou assim).
Afinal, porque é que tantas vezes lixamos e lixamos e lixamos a nossa vida, se não é suposto ser assim? Nós somos mesmo assim. É possível admirar e ver tudo isto nas nossas vidas. Se são estas particularidades que nos desperfeccionam e nos afastam do que desejamos de bom, também são muitas vezes elas que nos fazem sair do lugar. Talvez um pouco de consciência sobre isto nos faça movere com mais qualidade. Não sei, isso nunca me aconteceu.
Todos sentimos estas coisas feias e tão-pouco-compatíveis-com-a-vida-cor-de-rosa-que-era-suposto-todos-termos-neste-filme-com-final-feliz, como sentir nojo por pessoas que conhecemos, ou sou só eu que não consigo gostar de toda a gente?
Há mais alguém que tenha a certeza de que é possível ter perdido algo de muito bom na vida por medo?
Vejo tédio muito perto ou confundo-o com outras coisas que apenas não sei identificar?
Somos todos maus e fazemos coisas horríveis uns aos outros, ou sou só eu que vou para o Inferno?
* Sou uma pessoa muito comercial. À parte o criticável nisso, considero que tenho a sorte de me permitir fazer leituras de agrado, por entre o que chega a todos. Chegando ao máximo de meios que acodem a maioria, aprecia-se muito melhor os pormenores de charme que habitam por aí. Este homem, à luz da minha cabeça, sabe muitas vezes o que está a dizer.
** motivação deriva das palavras latinas motu (movimento) e movere (mover).
*** a minha teoria é que, por não serem "estados" socialmente desejáveis, sejam reprimidos por nós.

1 comments:

Anonymous Anónimo said...

Mas porque é que os gajos da Santa Casa da Misericordia falharam os numeros que EU tinha no boletim? :P

30 dezembro, 2005 10:39  

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