A idade "lá"
PARTE I
(O pressuposto e a salvaguarda habituais)
A idade acrescenta sempre qualquer coisa, a qualquer pessoa.
PARTE II
(A parte catártica perfeitamente escusada, mas com a qual têm de gramar porque esta é a liberdade que ganhei ao ter um blog cuja leitura não é obrigatória- mentira, podem passar já à PARTE III, ou então, optar pela opção mais sensata: o click libertador do Desenho)
Suponho que nem sempre possa trazer coisas positivas, como fielmente ditará a justiça aplicada pela - chamemos-lhe assim para evitar outras discussões - Vida. A minha opinião costuma dizer-me que qualquer pessoa fica mais interessante com a idade. Pela experiência, pela marotice que os anos trazem, pelas manhas do mundo que se começam a dominar, pelas palavras que passam a silêncio, pelas marcas do tempo no corpo, pelos defeitos que se vincam ou pelos caprichos que desvanecem. Há qualquer coisa no orgulho ou arrependimento dos anos que me fascina, como se, para mim, tudo o que foi vivido valesse em si mesmo, só por ter acontecido. Por ter ficado, lá atrás, num tempo e num espaço em que nunca mais ninguém poderá tocar. Isso não muda; trazemos o que fizemos em tudo o que somos agora. Por mais que se faça por esquecer ou desvalorizar, como eu tantas vezes insisto em fazer. O Futuro não existe na cabeça que agora tenho; o que planeio fazer futuramente confunde-se com o que penso, o que quero e faço agora, neste momento. Acho que não consigo programar momentos no tempo, sem que disponha esforço nesse sentido agora. Nesta lógica de ideias, prefiro então acreditar que Futuro é igual a Presente.
PARTE III
(A teoria)
Acredito piamente que a idade favorece os homens. Não estou farta dos homens da minha geração, nem satisfeita com eles. Eu estou nada em relação a eles. Não os conheço, tão pouco. São estranhos, sou estranha. Não sei sequer como me devo referir a eles: não são rapazes, mas também me custa chamá-los homens.
Não é propriamente uma novidade para mim, nem para quem tem acompanhado a minha vida amoroso-fantasiosa*, mas algo me compele a insistir no assunto e sublinhá-lo à minha cor: os homens de quarenta, cinquenta anos têm qualquer coisa. Claramente vantajoso, este qualquer coisa mostrou-se decisivo para mim, no meu actual habitat. O resto do mundo continua a existir - muito por culpa da pequena limitação que tenho em não poder moldá-lo ao meu gosto -, mas eu ressinto-me quando vejo aqueles anos a mais. Preocupa-me efectivamente que eu páre só naqueles anos a mais para mudar. Não olho tanto tempo, não falo mais do que o socialmente correcto, não sei tão bem o que estou a fazer. Em tantos anos a mais, é o saber dizer só o que é preciso, é também o silêncio sensato... é a cor do cabelo, é o cigarro, é o arrependimento dos anos na voz, é a tristeza que se pressente em qualquer altura e que eu sugo desalmadamente. Não é desmérito dos outros, ele vale por si, entre os iguais e o resto dos congéneres. Lá, há um conforto desconhecido muito grande. Não, não queria nada ser filha aqui. Se é que me faço entender.
Se puxar um pouco mais por mim, sou capaz de acreditar nisto até ao fim.
Não vamos querer isso, vamos... ?
* para o mundo também não.
2 comments:
Ainda no outro dia estava a dizer que não conheço homens da minha idade, e os rapazes são todos muito mais novos.
Acho q mais do q a idade, é a distância dos anos q nos separam, é um parecer que nunca mais chegamos lá...
é toda uma geração de homens mimados pelos pais e criados pela televisão que os "adormeceu" em relação ao exterior. cujos os "problemas", se resumem aqueles que são lembrados para combater o aborrecimento.
não todos os homens é claro, mas eu faço parte do primeiro grupo.
noutro aspecto e citando algo que não me canso de citar: "we may be trough with the past, but the past ain't trough with us"
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