sábado, fevereiro 18, 2006

A língua portuguesa

Descobri que há pessoas que têm vergonha de ouvir Delfins. Compreendo, uma vez que eu até de caminhar às vezes tenho vergonha.
Não choca. Os Delfins têm muito por onde alguém básico q.b. possa pegar para duvidar desse desejo de os ouvir*. Reparemos:
  • é uma banda portuguesa;
  • pior: é uma banda portuguesa que canta efectivamente em português;
  • têm uma obsessão lírica pelo mar, a saber: "A baía de Cascais", "Ao passar um navio", "Sou como um rio", "A cor azul", entre outras músicas;
  • o cabelo do Miguel Ângelo;
  • talvez mais.

Eu sou suspeita. Além de ter ouvido fácil - o que me é muito útil -, gosto especialmente de música portuguesa. É tal e qual como o Cinema. Se dizer que a Arte é uma linguagem universal é muito conveniente, a minha opinião é que tudo o que é feito na minha língua eu tenho a oportunidade de entender muito melhor e parece-me muito mais verdadeiro**. Felizmente, tenho a sorte de ter a sensibilidade para o apreciar. Ou, se quiserem, é bom estar convencida disso. Assim posso cantarolar todas as letras, sem fazer aquela figura ridícula de estar a tentar adivinhar a letra daquela música estrangeira. Além disso, posso entrar mais na música, porque sei mais facilmente o que ela nos propõe sentir.

É chocante perdermos algumas sensações com muito do que por cá se faz. Se a língua inglesa fica sempre bem, eu vou ali e já venho. Hit me baby one more time, não me soa nada bem.

Acho MESMO que a língua portuguesa é lindíssima.

Eu sei. O gosto é demasiado pessoal. Gostando do que gosto e olhando para dentro, isto faz todo o sentido para mim. Acreditem que não haverá melhor analogia:

Eu sempre gostei de ti

Eu sempre te conheci

Nunca pensei que me deixasses só

Eu sempre te procurei

Eu nunca te abandonei

Nunca pensei que te sentisses só

Sou como um rio

Que vive só para ti

Correndo só para te ver

Sou como um rio

Que acaba ao pé de ti

Foi sempre assim

Gostar de ti

Porque é que tudo acabou?

O que é que para ti mudou?

E agora tenho de viver sem ti...

* Ou pode, simplesmente, não gostar.

** Talvez gostar do que é estrangeiro seja mesmo isso: uma procura do que não é familiar, uma fuga à realidade. Talvez andemos todos a tentar viver num outro mundo.