O efeito perverso d' "O amor da nossa vida"*
De todo o esforço que fiz e faço para esquecer tantas coisas na minha vida, nunca me lembrei de me esquecer da primeira visão mais importante da minha vida. Aquela imagem que nos faz acreditar nos clichés românticos. Onze anos depois, sei descrevê-la pormenorizadamente. Hoje sei que era neuroticamente mais feliz naquela altura.
Enfim. Há que saber bater no fundo do poço com dignidade. Se não for possível, há apenas que saber voltar à tona. Reprimir. Guardar. Viver outras coisas, confundirmo-nos mais um pouco. Quantas vezes a vida quiser. Depois do fartote, há que saber lidar com o passado de forma digna. Se não for possível, há apenas que aguentar o atropelo de emoções que é voltar a dar de caras com uma pessoa que mexeu tanto connosco. Sei lá, encontrá-la de novo, por exemplo, sei lá... sei lá... como trabalhador do nosso novo local de trabalho! Mas mais irónico seria se o grande amor da nossa vida saísse da empresa logo em seguida. Aí, há que mexer e remexer bem o saco, até ter dúvidas q.b., até a dorzinha de barriga voltar, até precisarmos de confirmar os nossos sentimentos com alguém-não-nós. Até não termos bem a certeza se podemos estar ou não novamente apaixonados pelo amor da nossa vida.
A vida é tão irónica. A perversão é tão grande que até mete nojo. Eu gosto, mas mete nojo.
Onze anos depois de tanta merda, ainda há uma imagem em tons de bege na minha cabeça. A descer as escadas do ginásio. O ar de esta-merda-é-toda-minha. Tudo o que havia ali de detestável, era adorável. Incrível, ainda sei tudo o que precisava e que encontrei ali. Doentio.
* um post com 54 dias de atraso.
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