sábado, setembro 09, 2006

O direito ao túmulo-por-direito


Hoje de tarde, vi um programa sobre um grupo de alpinistas que tentava, a favor de uma enorme força de vontade (a minha tradução para aquilo que ouvi chamar de Feitiço), subir ao cume da atmosfericamente perversa K2. Penosamente, conseguiram chegar ao topo da montanha, mas, do grupo que ousou escalar a K2 - em vez de sensatamente se manter nas tendas - safaram-se apenas dois. Alguns deles morreram já a avistar o acampamento. Alguns alcançaram a montanha já sem mulher e amigos.
Do programa, ficou a intensidade da voz dos que acreditam no feitiço daquela montanha (que os há-de fazer voltar sempre àquele lugar), e as placas nos túmulos dos que quiseram morrer e, além-morte, permanecer ali.
Fez-me pensar que deveria ser sempre assim. Morrer a lutar pelo que sempre se quis há-de ser sempre admirável, há-de soar sempre bem e há-de ficar sempre bem na pauta e na tela.
Por mais perdidos que andemos... acredito que o caos da alma é o caminho de migalhas dos que não sabem o que querem. O caos é a única coisa que nos vai acompanhar até à certeza de alguma coisa, até à esperança num ainda. No limite da perfeição, até ao morrer com o digno brilho nos olhos.

Todos nós, quando morressemos, deveríamos ir automaticamente para junto daquilo por que mais lutámos durante a vida. Restar ali, apenas; fazer parte do sonho perseguido.
Chegar ao topo com vida? Perder demais até lá? Não tenho a certeza.