sábado, julho 16, 2005

Auto-Violação

17 de Julho de 2003

"(...) Apenas a minha pequena vida, (...) tendo em conta que, até ver, esta é a minha única oportunidade para ser pessoa neste mundo. (...) Atribuo à minha escrita uma importância em termos de desabafo e de libertação, que já não tem tanto a ver com a necessidade de ter nos meus pensamentos um ensaio de vida (...). Hoje em dia quero falar, quero escrever, porque continuo a não saber guardar as coisas só para mim, porque continuo a ser frágil, emocionalmente falando, e porque ainda há um caminho a percorrer. (...) Será mesmo que se perde tudo pelo caminho…(...)"

18 de Outubro de 2003

"(...) Eu continuo a querer imortalizar todos os minutos da minha vida (...) Não há nada a fazer, a vida não me chega, a vida que eu levo não me chega, eu não me chego para aquilo que espero de mim. Tenho e acho que sempre tive e espero um dia mudar, expectativas a mais para os limites que ponho a mim mesma, é como se quisesse tudo aquilo que digo a mim mesma para não fazer. (...) Ainda ontem, à noite, (...), eu dizia que achava e acho ainda que nós, venha o tempo, venham as desilusões, venha o trauma ou simplesmente uma enorme vontade de se ser diferente, somos essencialmente os mesmos…(...) não há várias Dianas… (...) Meu Deus…imagino-te agora aí no futuro a pensar coisas assim: “coitadinha de mim, armada em adulta…”, “eras muito adulta, eras…”…Caguei pra ti, caguei para os nomes das fases que temos de dizer por que passámos…caguei para o que estás a pensar… (...) Há coisas que hão-de sempre (...) magoar…e há outras que não se explicam (...) sei lá, acho que estou inconscientemente a tentar esperar por um momento alcoólico certo. No fundo, isto até é bem consciente…eu sou uma fraca. (...) Nada de novo, portanto, nada que me desculpe, mas achei bem dizer. O pior é que eu ainda gozo (...) Oxalá não seja nada mais do que eu espero. (...) até à próxima asneirada."

9 de Fevereiro de 2004

"(...) inesperadamente, cá estou eu com as mesmas frases iniciais de sempre. Às vezes, custa mesmo mudar o que é tão nosso, como por exemplo, esta estúpida inexperiência nos princípios de tudo o que faça na vida, como se tivesse sempre muito que provar (mais do que os outros, é o que sinto) (...) Um preço a pagar por ser eu. Ou por nunca deixar de ser eu própria. (...) Não tenho nada de especial para contar, sendo, por isso, tudo especial do ponto de vista da “Diana que não tem nada de especial para contar”. Estou basicamente numas curtas férias, (...) depois de ter passado quase um mês a tentar travar um pouco o meu estilo de vida pouco inteligente em termos de futuro, (...) para que (...) tenha a consciência tranquila. O que me vale é que vivo naquela académica esperança, baseada no carpe diem, que nos faz sempre ter uma desculpa para quase tudo. (...) Detesto férias, (...), tem algum jeito? Eu acho que não, que não se faz isto a quem não quer. As férias, por serem tão desejadas, nem têm a hipótese de não existirem, nem que fosse só para mim…(...) Eu só quero ver quando acabar o curso…quero ver quem é que me vai aturar, num estado depressivo tal, que a tristeza vai sentir inveja de, afinal, não ser tão perfeita assim. (...) Não percebo porque é que, às vezes, faço ou não faço certas coisas…sei que me falta muita coragem e, principalmente, o passo que só virá no dia em que confesse a mim mesma, para dentro e para fora, que assim nunca vou ser feliz…vou ter de sair de mim e, consciente ou inconscientemente, me assumir como dona dos meus dias…em vez de viver eternamente à custa do escudo protector da noite…porque me continua a custar viver a luz e enfrentar as caras frias e sem desculpas bebidas que, de manhã ou de tarde, me assustam tanto…No entanto, não me posso queixar…às vezes pareço parva comigo mesma…às vezes não sei se realmente quero ser diferente, se quero mudar…porque aquilo em que quero mudar, está sempre intimamente interligado à vida amorosa inexistentemente existente e, se eu me puser a pensar sensatamente, em termos de verdade pessoal, eu não tenho o porquê de mudar…sei que dizer “eu sou assim” não é solução, mas a questão é que não sei se será aqui…, no “problema” que penso ter, que devo mudar…talvez tenha que mudar a forma de encarar a vida…porque me custa viver em não-paz e não-guerra…não estou bem, mas sempre arranjo um meio de me ir aguentando…no fim, a verdade é que me safo sempre para o lugar mais seguro que exista. O meu problema será sempre perder os riscos como quem apenas quer fugir deles, sem pensar se poderia ou não vir algo de bom dali….preciso de deixar de correr para trás…de fugir…para não tropeçar nos próprios pés…para deixar de ser a conas que sou, para parar com o ciclo vicioso de fugir a tudo o que possa fugir…o que é quase tudo o que é importante e seria oportuno para mostrar que há mesmo algo forte aqui nesta cabeça e neste coração. No fundo, no fundo, sei que este problema (ou não) ainda não está para breve a ser resolvido. Talvez um dia, com o processo dos dias felizes em que me deito na cama como quem encontrou a ovelha perdida, que faltava ao rebanho…Obrigada pela atenção aí no futuro, pela inspiração do presente e lição do passado. Até breve. Ou não."