sábado, junho 04, 2005

"Cada vez que tento voar, caio"

Dei uma volta por aqui. Vi tanta coisa. Vi mais Florbela, vi duas pessoas que deviam ter um só blog, vi bocas e indirectas, vi recados para alguém que toma conta de alguém que me é importante. Vi meninas de 15 anos a crescer. Vi-me a crescer com elas. Vi mais poemas. Ouvi uma música dita foleira. Vi que a música foleira me ajuda a escrever. Vi a minha página. Sinto que hoje não consigo escrever sem ser pelas palavras dos outros. Da poetisa. Penso em várias pessoas ao mesmo tempo. Sinto saudades de uma, sabendo que a saudade da outra não posso sentir, porque nunca me largou e nunca a larguei. Penso em comentários de blogs. Dói-me a barriga, de nojo. Penso em comentários de blogs muito específicos. Penso no messenger e naquilo que ele nos dá e nos tira. Penso no tempo que perco em frente ao computador. Penso que o que faço agora foi o melhor tempo passado aqui, neste tempo em Viseu. Penso que troco as pessoas por aquilo que querem dizer, através de um computador. Penso neste écran e lembro-me de uma grande bebedeira. Vem-me à cabeça a facilidade com que se fala com quem não se conhece, quando se bebeu além do limite. Agora olho para o computador e lembro-me que cada janela aberta é mais um copo, é mais um passo além da sobriedade. E lá falamos, e lá nos afastamos daquilo que seria a realidade. Olá, tudo bem, o que é que fazes, o que estudas, porque é que não estás bem, já viste o que escrevi, tás ocupada?, porque é que estás tão calada, porque é que não respondes, porque é que não comentaste a minha foto, tens namorado?... Penso que há tantos vícios que descuramos... penso que há tanta gente enganada... Penso num cigarro. Penso nas pessoas que o reprovam. Penso no ridículo. Penso em mim, penso em ti. Penso que nunca estiveste comigo. Penso que quem sempre esteve, nunca teve o que tu tiveste. Penso nas asneiras que o teu nome me faz trazer à língua. Penso que não há razão para isso. Exacto. É a vontade. Sinto que o buraco cheio de vazio que ficou, sempre existiu. Porque o enchi de ti, porque tu saíste e ele ficou. Porque se nunca o preenchi de mim, foi sempre vazio. Se nunca te vi em mim, se nunca me dei e me tirei de ti, nunca poderias cá ficar. Porque sabes que foi sempre assim. Porque me davas e eu tirava, porque tiro sem te dar... e me davas cada vez menos em cada exercício de ingratidão. Penso que cheguei a ti através de um assunto trivial. Penso que poderia ter chegado até ti através de qualquer outro assunto de merda. Penso que o meu tu, neste texto, pode ter vários nomes. Reparo que a única pessoa para quem estou a escrever sou eu. Reparo que vou lançar este meu pedaço aos lobos. Penso que posso bem cagar nisso. Penso que gostava de estar alheia a tudo. Melhor, que tudo estivesse alheio a mim. Perfeito: os 2. Penso que gostaria, apesar disso, de 15 minutos do tempo do mundo para mim. Penso que gostaria de conhecer todas as pessoas do mundo. Penso que poderia amar muitas. Penso que isso é impossível, porque tenho medo de andar de avião. Penso em trazê-las todas a Portugal. Precisaria de mais de 6 biliões de dias para me concretizar. Penso que sempre terei alguma dificuldade em ser feliz. Penso que quem pensa demais, é menos feliz. Penso naquilo que me poderia fazer pensar menos. Vem-me à cabeça um traumatismo craniano e dá-me vontade de rir. Contorço-me, para não rir. E rio-me, sem poder evitar, apenas por ter pensado nisso. Penso em consequências. Em riscos. Penso na efemeridade... Penso em ti. Penso no que poderás estar a fazer. Acho que estarás a tentar arranjar algo para fazer. E tu vais estar a ouvir música, a tocá-la ou a pensar no teu próximo filho. Penso em quando o vou ter nos braços. Penso que me inquieta esse filho, o ele n ter nenhuma parecença minha. Ter lá o meu sangue, na tua foto e nas tuas palavras, a correr. Penso que este código só lê quem me ler. Penso na música que estou a ouvir agora. Não sou uma agarrada. Mudei-a. Penso no que pensará o meu cão quando está a tomar banho. Penso que muitas pessoas acham que ele não pensou nada. Penso no meu cão, a abanar-se todo, a sacudir a água, depois do banho. Penso nele e na vontade que deve ter tido de correr dali e ir esfregar-se na terra... Penso que gostava de ser assim. No fim do dia, cair no preto, deixar sair o branco e limpar-me na minha terra. O que é que eu estou a fazer, se eu não pertenço aqui? Penso que poderia aqui por tantos poemas. Acho que encontrei uma maneira de os aqui por, sem ser pelas palavras dos outros.

4 comments:

Anonymous Anónimo said...

...então não tentes voar... não achas que é pouco realista? :|

05 junho, 2005 01:15  
Blogger Adriana said...

Não tentes voar?! Porquê, achas que vais cair menos vezes do que aquelas que cais se mantiveres os pés no chão?

07 junho, 2005 10:45  
Blogger Timmy Sá said...

...a queda é que será concerteza menor... :)
...mas isto sou apenas eu, no meu estado o mais céptico possível...

07 junho, 2005 15:56  
Blogger Adriana said...

Talvez, talvez será menor a queda, mas, certamente, também será menor o sonho e o desejo de concretizá-lo. Nada melhor de que ficar quieto para se ter a certeza que não se cai... ou então não...

09 junho, 2005 12:21  

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