sábado, junho 11, 2005

O meu Fantasma

O meu Fantasma faz-me escrever como se mais nada existisse. Como se ele fosse a minha vida. Como é que o deixei levar a minha vida?

Apetece-me agarrar todas as unidades de tempo. Marcá-las com a minha dor. Deixar nelas todas as palavras que nunca poderão sair. Agarrá-las, torturá-las... só para poder respirar. Pegar nos segundos, esticá-los, amordaçá-los aos minutos, fazer deles grandes espaços vazios. É como o tempo que está lá atrás...

Um Fantasma não morre?

Como perdi eu os dias? O Sol morreu porquê? Como passei a crescer sozinha no escuro? Como é possível a Luz retirar-me vida, os dias serem torturas até ao fim das tardes... e eu gostar do mal que me traz o resto de tudo?

O meu Fantasma pegou em mim, um dia. Leu-me quase completamente. Leu-me até onde pôde e soube, até onde mais nada se escreveu sem borratar.
Dá cabo de mim, perder a garra, perder a força, cá dentro. Dói tanto... eu era tão diferente... Parei no tempo, perdi vida, perdi a vontade de ser como me fui fazendo para ser...
Sugaste-me vida, tiraste-me alimento... fizeste de cada dia só mais um dia de sede...
A noite toma conta de mim. Abraça-me, sempre que me caças de novo, sem dares conta... Agarro-me a ela... perdendo gotas de vida.

Vivo das gotas de vida que o meu Fantasma leva de mim e torna suas.