sábado, janeiro 21, 2006

Os medos, coragens e clicks

Às vezes inventamos medos para justificarmos algumas cobardias que temos. Não há razão para ter medo. O medo não existe.
Camacho Costa (2002)
Costumo dizer que sou a verdadeira cagarolas. Quem me conhece, não pode deixar de conhecer também os meus medos. Tenho medo de alturas, arrepio-me só com a ideia de ver ou tocar em feridas e sangue, tenho a certeza de que nunca andarei de avião sem estar anestesiada ou inconsciente, seja de que forma for. Tenho, muitas vezes, vergonha de mim, do meu corpo e de coisas que me ouço dizer. Tenho pavor da atenção de multidões. Odeio ser avaliada e testada. Tenho receio de falar em público. Tenho, vezes demais, medo de perder pessoas na minha vida. Opto por perder antecipadamente. Não me lembro de sofrer de outra forma.
Não sei bem como, com que níveis de sanidade mental e felicidade instantânea, consegui alcançar tantas coisas na minha vida. Com tudo o que me tem acontecido (e esta forma de expressão não significa que me tenham acontecido muitas coisas más, mas apenas as suficientes para justificarem, na minha cabeça, o recurso a ela), cheguei aqui.
Eu acho que o medo existe e tem que existir. Mas concordo com a primeira frase. Assim como desenterramos medos para justificarmos merdas na nossa cabeça que mais não serão do que cobardias, também acho que nos enterramos ao criarmos forças para acreditarmos em muita coisa que não existe. É como se quisessemos ter medos, para não fazermos coisas. É como se quisessemos que, desta vez, nesta nova oportunidade, pudessemos ser diferentes e ter algo especial na nossa vida. A pouco e pouco, começamos a acreditar que estamos a fazer o que está certo, que estamos apaixonados, que um determinado curso ou profissão é a nossa vocação, que o que nos faz realmente felizes é isto ou aquilo... O click de que tanta gente fala e que muda tantas vidas, é da responsabilidade do nosso cérebro, das nossas ausências e carências.
Eu tenho esta teoria. Considero que os nossos medos e as nossas coragens partem de nós, de tal forma, que não existirão tais coisas como vocações, grandes amores, fobias ou espaços mentais únicos, desenhados por actividades, onde nos sentimos compreendidos, confortáveis e próximos da felicidade.
Quase tudo na minha vida contradiz esta minha teoria. Mas.
Tal como uma amostra grátis de amaciador numa embalagem de champô, a capacidade extremamente desenvolvida de não arriscar faz parte do pacote Diana. Vai querer levar?

2 comments:

Blogger Adriana said...

Eu tenho uma pergunta, não que discorde, mas, o que é a cobardia?

21 janeiro, 2006 17:06  
Anonymous Anónimo said...

Levar o quê? No pacote? Hoje estarei disléxico ou simplesmente burro?

22 janeiro, 2006 18:16  

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